A artista Bárbara Wagner, em parceria com Benjamin de Burca, desconstrói o fenômeno do brega no filme Estás vendo coisas, criado especialmente para a #32bienal. Abaixo, a artista comenta o filme e mostra algumas referências que a levaram à criação da obra:
"Na paisagem social e profissional da música Brega do Recife, a indústria dos videoclipes é catalisadora de uma ideia de futuro pontuada pelo desejo de sucesso tal qual encorajado pelo capitalismo. Estás vendo coisas observa esse mundo onde a auto-regulação e a manipulação da imagem têm papel crucial na construção da voz, status e identidade de toda uma nova geração de artistas populares. Escrito e encenado por participantes do Brega, o filme acompanha dois personagens principais – o cabeleireiro / MC Porck e a bombeira / cantora Dayana Paixão – em seus percursos entre o estúdio e o palco.
MC Porck em cena de em cena de Estás vendo coisas, 2016
MC Porck fotografa um cliente em seu salão Novo Visual, no bairro do Vietnã, em Recife, 2015
Dayana Paixão em cena de Estás vendo coisas, 2016
Semelhante a um musical, Estás vendo coisas é filmado no interior de uma casa noturna, onde gestos são seguidos de canções sobre amor, fidelidade, sucesso e riqueza. Retirada de seu contexto mediatizado, a linguagem do Brega é desconstruída e rearranjada a fim de expor o vocabulário do espetáculo experimentado como uma nova forma de trabalho.
Brega é um termo informal usado para definir várias formas de música popular de massa produzidas no Brasil desde os anos 70 e fortemente associadas a uma noção de mau-gosto. Enraizado em contextos socio-econômicos mais amplos, hoje o Brega incorporou métodos de produção e distribuição sofisticados, dando conta da visibilidade de uma classe média que extrapola as favelas do Brasil. Diferentemente de outras abordagens que comumente satirizam o assunto e enfatizam seus aspectos carnavalescos, Estás vendo coisas adota um tom psicológico e melancólico para refletir em como uma expressão cultural responde a uma condição da economia".