OPAVIVARÁ! escreve uma carta sobre a concepção de Transnômades. As pesquisas para o projeto foram registradas pelo coletivo nas cooperativas de catadores da Baixada do Glicério e no CEAGESP, em São Paulo. Confira:
"Transa, transe, trânsito, transporte, transmissão, transposição, transfiguração, transferência, transação, transição, transcrição, transformação, transcorrência, transcendência, transparência, translucidez, translucência, transaminase, transubstanciação, transgressão, transfobia, transbordo, transtorno, transviado, transgênero, transgênico, transgeracional, transexual, transeunte, translado, transtropical, transamazônica, transamérica, transpolar, transatlântico, transcontinental, transnacional, transoceânica, transtemporal, transmodal, transcultural, transdisciplinar, transcriação, transposição, transversal, transignificado, transignificante, transnômade.
"Transnômades, módulos móveis, carrinho carroça adaptado, transsignificado, movido por tração humana percorrendo os espaços públicos extramuros da cidade, células de transporte vital para o funcionamento dos fluxos arteriais da megalópole pulsante.
São muitos os carrinhos e carroças que ainda circulam pela cidade de São Paulo, não movidos por motores de combustível fóssil ou bois ou cavalos, mas por carroceiros e carregadores que movimentam a metrópole. Tudo passa e atravessa os caminhos dessas máquinas de madeira, metal e suor. Dos carrinhos da CEAGESP e dos mercados do centro, por onde passam quase todo o alimento consumido pela cidade faminta, até as carroças que estão na outra ponta desse ciclo, coletando, recolhendo, separando e dando endereço certo ao material descartado, dispensado, alienado. Resignificando o lixo como matéria prima e reintegrando ao sistema de produção.
Percorremos estes caminhos buscando esses módulos móveis, estes caminhantes carregadores ambulantes, dinâmica nômade em eterna errância, sempre na resistência e no embate do corpo com a cidade, da carne com o asfalto, cumprindo um papel fundamental para a existência do ecossistema urbano. Pelos polos distribuidores de comida ou embaixo dos viadutos nas cooperativas de catadores encontramos carros, carrinhos, carroças e histórias de quem exerce essa função que requer força física, invenção e muita disposição.
Dessa vida em movimento resignificamos esses dispositivos móveis propondo dinâmicas a partir de outros usos que os próprios carregadores e carroceiros conferem nos entretempos do dia a dia, nos intervalos do trabalho. Uma cama para a hora de descanso, uma cabana/casa para a noite que acontece na rua, uma mesa para o almoço, pra uma conversa, um carteado na hora da pausa da correria, uma biblioteca de livros achados no lixo, o som do radinho sacolejante.
Criamos aqui um acampamento transnômade, uma casa tenda oca ocupação que pode circular e se assentar em qualquer lugar, criando uma zona autônoma temporária de encontros e trocas que rapidamente pode ser levantada para seguir o rumo que os seus puxadores quiserem. Uma coletividade nômade ocupando os espaços abertos da cidade criando intervalos no fluxo urbano para pensarmos sobre a aceleração do tempo e a compartimentação do espaço, sobre as incertezas vivas. Ativando outros modos possíveis de se viver junto".
Todas as imagens: Cortesia de OPAVIVARÁ!