A artista Pia Lindman trabalhou com os antropólogos Tinna Graetarsdottir e Sigurjon Hafsteinsson na Islândia, os curadores Lars Bang Larsen e Jochen Volz no Brasil, os micologistas e biólogos Barbara Saavedra e Giuliana Furci no Chile, e os curadores e artistas Petra Blomqvist e Erich Berger na Finlândia para realizar pesquisas de seu mais recente projeto. Lindman viajou para a montanha Saana, em Kilpisjärvi na Lapônia finlandesa, para Keflavik, antiga base da NATO (North Atlantic Treaty Organization) na Islândia, e para o Parque Nacional Karukinka em Tierra del Fuego, no Chile. O que combina estes locais é a energia que Lindman energia tem percebido em formações rochosas destas paisagens. Trabalhando com sensibilidades artísticas e aprendendo a partir de outras sensibilidades (científicas, sociais e espirituais), Lindman documenta suas explorações de energia digitalmente, cerimonialmente, e com desenhos. Ao recontar estas documentações, cria suas sessões de cura, performances e palestras:
Fotografia tirada no Lago Deseado, Patagônia, há algumas centenas de metros e dez minutos antes de caminhar para uma formação rochosa. Não vi a luz, mas, no entanto, pressionei o obturador.
Karukinka, O fim do mundo: energia conectando-se diretamente ao espaço, no pico mais alto que atravessa a cordilheira
Um vídeo que apenas aconteceu. Eu estava tentando gravar o som do Sea Lions (soa como leões rugindo), mas as gaivotas e albatrozes reivindicaram o palco com o seu comportamento muito peculiarKarukinka Caleta Maria
Karukinka Caleta Maria: conectividade entre a terra e a água formando a vida
"Um inverno, quando tinha 12 anos de idade, eu estava esquiando (como de costume) pelo arquipélago da Finlândia, meu país natal. A paisagem flutuava com pequenas ilhas ondulantes e um mar congelado. O céu estava claro e, embora fosse muito azul, disparava brilhantes feixes de luzes que saltavam de volta para a neve. Do topo de uma colina, com o mar congelado em volta de mim, fiquei impressionada como tudo brilhou e vibrou com o sol e a água cristalizada. Eu me senti tão pequena e, ao mesmo tempo, imensa. Foi como se eu tivesse evaporado na forma da energia vibratória em torno de mim. Percebi o quão pequena e insignificante eu era e, justamente por isso, como fiquei entusiasmada por fazer parte desta magnífica beleza. Àquele ponto, não importava se eu vivesse ou morresse".
"Nos últimos anos, fiz mais explorações com este sentimento. Eu vago por paisagens, escuto, olho (muitas vezes vendo com olhar fora de foco), fecho os olhos, sonho e abro os olhos novamente. Às vezes eu ando, corro, rastejo, salto, nado. Às vezes tenho uma câmera em movimento comigo. Mas isso acontece principalmente depois que eu percebo que há algo acontecendo neste lugar. Uma formação de rocha, uma abertura que abraça ou canta na paisagem".
"Então levo a câmera comigo para ser um olho de gravação, pois sinto que as rochas, a terra e o céu abrem-se com aceleração total. E mesmo que eu capte isso tanto quanto possam meus sentidos e cérebro, ainda não vejo o suficiente. No entanto, sinto. E sinto bastante depois do encontro também. Posso pedir a este sentimento para me mostrar - ... e imagens, movimentos ou sons surgem, não como lembranças, mas mais como descodificações da mesma energia transformando-se para cada nova expressão".
"Tento me mover com a energia do espaço. A câmera é parte deste movimento, não um gravador separado, mas um agente de detecção ativa junto a mim. Talvez o que eu encontre sejam aberturas que liberam energias da Terra. Estes encontros ativam tanto a mim quanto a uma formação da terra ou rocha. Sou grata por ter sido descoberta por essa energia, muitas e muitas vezes. Em outros lugares, parece que algo aconteceu durante a era dos seres humanos ou talvez muito antes. A nível molecular, eventos podem ficar registrados como ressonâncias em árvores e rochas. Tensão, tristeza ou alegria".