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Apresentação pública Pedagogia Política da Lama com Paulo Tavares: "Qual a dimensão política – tanto do ponto de vista da opressão como da resistência – de eventos como a morte do Rio Doce causada pela lama tóxica da Samarco/Vale/BHP Billiton? A contaminação ambiental massiva produzida pela Chevron/Texaco no norte da Amazônia Equatoriana? Ou a seca devastadora que atingiu São Paulo em 2014? O que as constantes convulsões políticas, ambientais e climáticas que testemunhamos ao redor do mundo atualmente compartilham entre si? É possível pensá-las como eventos relacionados, manifestações complementares de um mesmo contexto global onde a política carrega uma dimensão fundamentalmente ecológica, e a noção de ecologia pode ser interpretada como expressão prática dos conflitos políticos? As novas doutrinas de segurança elaboradas pelo Pentágono, por exemplo, incorporam a mudança climática e o aquecimento global como novos atores nos conflitos armados. O Conselho de Segurança da Nações Unidas cogita estabelecer uma força especial – os “green helmets” – para conduzir missões “humanitárias-ambientais” nas fronteiras do terceiro mundo. Em São Paulo, onde governo e violência policial tornaram-se sinônimos, forças de segurança estão sendo treinadas para uma futura guerra pela água, bem coletivo e vital cada vez mais escasso que o poder do estado-capital busca transformar em “ativo financeiro”, anunciando novas formas de repressão para os conflitos pelo comum que definirão o contexto geopolítico no mundo pós-mudança climática (ou “pós-Holoceno”)".
Este encontro realizado na OIP abre espaço para pensar estas questões a partir de experiências históricas de luta emancipatória pela defesa do território, como o caso da introdução dos direitos da natureza na lei constitucional do Equador; o debate em torno da Comissão Ambiental da Verdade no contexto do processo de paz na Colômbia; e as décadas de conflito dos povos do Xingu contra o projeto Kararaô/Belo Monte, encruzilhada histórica que nos remete à luta pelo direito de reparação aos crimes da ditadura que vem sendo mobilizada por diferentes povos indígenas. Formas de repressão política estão associadas com processos de destruição e despossessão ambiental, na mesma medida em que o desmatamento, a contaminação da água e do ar, e a expropriação do comum constituem formas de violência e violação de direitos, contra humanos e não humanos. Nestes fóruns constituintes, arenas de imaginação e reinvenção política contra a lógica violenta do desenvolvimentismo extrativista, não apenas a proteção da natureza e da vida está sendo debatida, mas sobretudo a descolonização do conceito de natureza que herdamos dos aparatos cognitivos, epistêmicos e imagéticos da modernidade/colonialidade.
Paulo Tavares é arquiteto. Atualmente seu trabalho foca-se nas relações entre conflitos espaciais, direitos e culturas visuais. Entre 2011-2015 foi professor da Facultad de Arquitectura, Diseño y Artes da Pontifícia Universidade Católica do Equador, e antes disso lecionou no Center for Research Architecture, Goldsmiths – Universidade de Londres.
imagem: Forest Law [Selva Jurídica], 2014, de Ursula Biemann e Paulo Tavares