Uma coluna, 2016
Com materiais ordinárias e olhar atento, Cristiano Lenhardt constrói um “mundo bicho”. Bicho porque investe no rudimentar, simples e pobre, à revelia de uma ideia de erudição que, para a civilização branca ocidental, costuma depender da riqueza. Bicho porque é mantido em situação selvagem, deseducado, alheio aos hábitos estéticos, de poder e classe. Nos refugos de um Brasil tomado por monoculturas e ciclos de exploração, esse lugar inventado, meio real, meio imaginário, acumula uma energia vital de criação que sobrevive e é capaz de transgredir por pura delicadeza, e não pelo conflito. Em Trair a espécie (2014-2016), uma manada de seres inumanos se espalha pelo edifício. Mesmo que feitos de cará, deixam de ser alimento e ganham corpo físico e transcendência. Sobre o seu estado, só os dias podem dizer, já que tanto são vida em putrefação, quanto raiz que se sedimenta e cresce. Uma coluna (2016), por sua vez, nasce de uma performance na abertura da 32a Bienal, quando dançarinos entrelaçam colunas da arquitetura como no folguedo popular do pau de fitas. A coreografia cria uma artesania de tramas que atravessa os três andares e resulta em uma espécie de coluna infinita, um mantra de continuidade para dentro e para fora, mesmo que, após a ação, se estabilize como escultura.