Dois pesos, duas medidas, 2016
Lais Myrrha investiga instrumentos e saberes que constroem nossa experiência no mundo a partir do lugar que nele ocupamos. Dicionários, mapas, bandeiras, hinos, jornais e telejornais são alguns dos elementos sobre os quais a artista interfere. Para ela, a arte é uma possibilidade de se lançar em zonas de instabilidade, em situações nas quais o familiar se torna estranho e a lógica convencional parece falhar. Myrrha explora em suas obras a noção de impermanência e a história contada do ponto de vista dos “vencidos”, assim como a precariedade dos conceitos de equivalência e equilíbrio. Um elemento importante de seu processo de criação é a escolha e o uso preciso dos materiais, o que revela sua atenção à capacidade de significar, de funcionar de modo simbólico e condensar narrativas. Em Dois pesos, duas medidas (2016), a artista constrói duas torres com as mesmas dimensões, compostas de materiais empilhados. De um lado, materiais empregados nas construções indígenas (cipó, toras de madeira, palha) e, de outro, aqueles usados nas edificações típicas brasileiras (tijolo, cimento, ferro, vidro, canos) – dois modos construtivos que corporificam modos de vida e dois projetos distintos de sociedade que, ainda que sejam potência de construção, já anunciam suas formas de ruína.