Fotograma de Cantos de trabalho: Cana-de-açúcar, 1976
O cinema de Leon Hirszman tem a noção de trabalho como matéria-prima e eixo norteador. Assumindo que o sujeito transformador da história são os trabalhadores, Hirszman considerava sua tarefa como cineasta a organização dos registros das diversas formas de luta e resistência dessa classe social, de modo que se tornassem sua memória. Seus filmes trazem a marca de experiências históricas concretas, como as greves dos metalúrgicos na região do ABC paulista, na década de 1970. É esse o caso também de Cantos de trabalho, trilogia filmada entre 1974 e 1976, nas cidades de Chã Preta (AL), Itabuna (BA) e Feira de Santana (BA). Em cada um desses locais foram registrados trabalhadores rurais exercendo suas atividades: mutirão para amassar o barro, colheita e pisa de cacau e colheita de cana, respectivamente. Enquanto trabalham, eles entoam cantos que atuam como marcadores rítmicos, ao mesmo tempo que firmam o lastro de sociabilidade envolvido no esforço físico coletivo. Filmados em uma linguagem que busca tempos e enquadramentos precisos para revelar o trabalho com todos os seus detalhes, os documentários são acompanhados de uma narração que enfatiza a importância do registro dessa prática cultural que, já naquela época, se encontrava em vias de desaparecer.