Fotograma de HEAVEN [Paraíso], 2016
Enquanto o conservadorismo cresce e acirra preconceitos de raça, classe e gênero, o futuro se fortalece como lugar recorrente na obra de Luiz Roque. Não porque o artista queira se omitir sobre o presente ou exercer o progresso como forma de apagar o passado. Quando projeta a vida daqui a trinta ou sessenta anos, busca pelo que atravessa o tempo como esperança, promessa, possibilidade. No limite entre a catástrofe e a redenção – duas estruturas narrativas recorrentes na sua linguagem cinematográfica –, Roque constrói filmes que expressam a natureza inconclusa e cíclica das disputas sociais na história. Na 32a Bienal, apresenta HEAVEN [Paraíso] (2016), que se passa na segunda metade do século 21, quando a notícia de uma epidemia de origem desconhecida faz os órgãos de saúde levantarem a hipótese de transmissão de um vírus pela saliva de transexuais. A escolha precoce dos suspeitos repete a retórica preconceituosa e acusatória das campanhas contra a Aids na década de 1980. Os medos, portanto, persistem nessa visão do futuro, assim como uma eloquência exercida para fazer crer. A ficção científica fascina justamente por suas afirmações convictas.