Ana Mazzei comenta sobre a relação entre palavras, imagens e objetos na obra Hydragrammas de Sonia Andrade.
Ana Mazzei comments on the relationship between words, images and objects in the work Hydragrammas by Sonia Andrade.
#32bienal #camposonoro #artistasobreartista
O trabalho da Sonia Andrade chegou até mim muito recentemente. E esse projeto que está aqui na Bienal é um trabalho que tem uma complexidade vinculada a essas três situações que existem no trabalho, que é a da palavra, a da imagem e a do objeto. E que são três situações que coexistem, elas estão juntas. Mas ao mesmo tempo elas existem separadamente também. Então cada objeto, cada imagem, cada palavra, se olhado individualmente, têm uma complexidade deles. A palavra com seus múltiplos significados, a imagem com as associações que a gente faz necessariamente com a imagem, com esse plano irreal onde a imagem existe, mais virtual, e o objeto com as características e a dificuldade que tem o objeto tridimensional, com as suas particularidades estruturais que mantém o objeto em pé. E o projeto é um conjunto formado por mais de cem objetos, mais de cem partes, ele se chama Hydragrammas. É interessante o que isso significa porque a Hidra é essa figura mitológica que é composta por um monstro, um ser que tem um corpo de dragão e várias cabeças de serpente. Numa determinada leitura é como se existissem várias vidas em um único ser e esse ser que nunca morre: se você tira uma cabeça nascem outras duas e esse bicho que vai crescendo de algum jeito. E o ideograma que nada mais é do que um símbolo gráfico que representa uma ideia por associação. E você juntar o que seria essa Hidra, que é esse monstro virtual, inexistente, mitológico, com o ideograma, que seria uma representação gráfica de uma ideia, faz muito sentido no contexto em que o trabalho é apresentado. Eu entendo isso como um processo de composição, mas que não necessariamente é lido na sua soma. Ele, para mim, existe em separado. Eu acho que as três instâncias, as três situações colocadas, habitam o lugar delas. Obviamente o conjunto delas vira esse conceito maior, esse reconhecimento do trabalho como um todo. E que é infinito. Se você destruir a cabeça da Hidra e [vão] nascer outras duas, é um jogo infinito de renascimento e recomposição, justaposição e reordenação de um monte de coisas, de ideias que vão surgindo. Os objetos em si são agrupamentos de objetos encontrados, de coisas prontas. E nesse sentido acho que o conjunto do trabalho [está] o tempo inteiro em transformação. Depois que você vê todo o conjunto você consegue visualizar quase que um outro conjunto inteiro novamente. Tem uma liberdade muito grande nas associações, nas relações que ela cria entre a palavra, a imagem e o objeto. Por isso que eles existem independentes, eles quase que circulam entre si. Ele é um trabalho indescritível. Para descrever você tem que desmembrar, senão você não acessa. Senão ele se torna indescritível, indomável, uma Hidra mesmo, monstruosa, amiguinha, boazinha [risos] e bonita [risos].
English Version
Sonia Andrade’s work made its way to me very recently. And this project that’s here at the Bienal is one with a complexity tied to these three situations that exist in the work itself: those of word, image and object. These are three situations that co-exist, they’re together. But at the same time they exist separately as well. So each object, each image, each word, if looked at individually, has its own complexity. The word with its multiple meanings, the image with the associations we necessarily make with images, with this unreal plane on which the image, more virtual, exists, and the object with the characteristics and difficulties three-dimensional objects have, with its structural particularities that keep it up. And the project is a series made up of more than a hundred objects, more than a hundred parts, and is called Hydragrammas (Hydragrams). It’s interesting what this means, because the Hydra is this mythological figure made of a monster, a being that has a dragon’s body and several serpent’s heads. According to one reading, it’s as if various different lives existed in a single being and this being never dies: if you chop off one of the heads, another two are born, and this animal keeps growing in one way or another. And the ideogram is nothing more than a graphic symbol representing an idea by association. And if you put what this Hydra would be, which is this virtual, non-existent, mythological monster, together with the ideogram, which would be the graphic representation of an idea, it makes a lot of sense in the context in which the work is being presented. I understand this as a composition process, but that is not necessarily read as a whole. For me, it exists separately. I think that these three instances, the three situations that have been put forth, inhabit their place. Obviously when taken together they become this wider concept, this recognition of the work as a whole, and which is infinite. If you destroy one of the Hydra’s heads and another two are going to sprout up, it’s an infinite play of rebirth and recomposing, juxtaposing and re-ordering of a whole lot of things, of ideas that emerge. The objects themselves are groupings of found objects, of existing things. And in this sense I think that the work as a whole is always in transformation. After you see it in its entirety you’re able to visualize something like another whole again. There’s a great deal of freedom in the associations and in the relationships she creates between word, image and object. That’s why they exist independently, it’s almost as if they circulate among one another. It’s an indescribable piece of work. To describe it you have to dismember it, otherwise you can’t access it. Otherwise it becomes indescribable, indomitable, a real Hydra, monstrous, friendly, nice [laughs] and pretty [laughs].
Autoria e narração / Authorship and narration:
Ana Mazzei
* Os áudios do Campo Sonoro foram transcritos e/ou editados visando uma leitura mais acessível / All Soundfield's audios were transcribed and/or edited aiming to produce accessible contents