Tendo como ponto de partida o feminismo comunitário boliviano, Katia Sepúlveda indaga mulheres se haveria também um feminismo mapuche. Neste áudio, a artista entrevista a pesquisadora e ativista Margarita Calfio Montalva, membro da Comunidad de Historia Mapuche e da Casa Autogestionada de Mujeres del Ngulumapu.
Taking Bolivian communal feminism as its starting point, Katia Sepúlveda questions women whether there would also be a Mapuche feminism. In this audio, the artist interviews Margarita Calfio Montalva, member of the Comunidad de Historia Mapuche and the Casa Autogestionada de Mujeres del Ngulumapu.
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Mi nombre es Margarita Calfio Montalva, eh, Bueno yo estudie servicio social, eh, nací en Santiago y vivo en Temuco hace más de once años y bueno me intereso también mi trabajo ciertos temas de género, feminismo, mujeres mapuche, mujeres de pueblos originarios. Esos son mis áreas de interés y bueno nace yo creo que la vida te lleva a eso en realidad yo no elegí eso la vida me llevo eh que las mujeres mapuche, en general por mi experiencia son muy potentes, tienen [pausa] un poder impresionante pero es un poder como invisible entiende? de hecho una autora me acuerdo este momento del nombre no me acuerdo pero ella era de fuera, decía que era los pilares invisibles de la sociedad mapuche. Porque son ellas las que están en todo ámbito, en el ámbito económico, en el ámbito social, en el tema organizacional, ya. pero están ahí trabajando como hormiguitas pero en los momentos clave, no aparecen, no no son relevante ni para la política pública ni para ciertas organizaciones más políticas y eso a nivel histórico ha sido así o sea hay como un como que se hace un ninguneo del de ese poder de esa de esa fuerza que tienen las mujeres y por el lado de las mujere creo que todavía hay como un temor hay algo ahí que paso siento que hay como una inseguridad respecto a lo que se hace y los aportes que ellas tienen o sea yo siento que uno, el tema [pausa] del choque cultural eh de la sobre todo de la ocupación militar que se hizo acá de lo mapuche en 1881 1883 que eso históricamente es bastante reciente. Eso influyo que hubiese una, bueno hay autores que también hablan como este tema del holocausto lo cierto es que hay un choque muy fuerte donde hay un empobrecimiento en todo ámbito o sea aquí se perdió más del 90% del territorio o sea creo que queda un 5% de lo que era el territorio ancestral mapuche y eso obviamente trajo pobreza, ya, se se obligó a mucha gente a emigrar tempranamente y hubieron también quiebres en la familia y bueno eso afecta porque hay una el tema de lo que hablamos denante un poco de frustración hay frustración hay rabia también eso nosotros lo hemos visto sobre todo con la gente joven. Por este tema del de de ser pobre de ver que todo lo que hay en la memoria histórica ya no es así y esa rabia se tiene que salir por alguna parte tu dices pero en términos objetivos también hay un yo hablo de un empobrecimiento. Finalmente claro tu hablas de riqueza cultural hay sabiduría en muchos aspectos sobre todo en la salud, que se yo pero en la práctica cotidiana tu ves que no hay no hay recurso para llevar una vida digamos con una buena alimentación porque se han perdido mucho también conocimientos ya, por la misma subyugación a las instituciones al estado entonce eso afecta la vida familiar eh y eso yo lo veo en mi pa que hablar de afuera si uno lo ve, yo lo veo desde mi propia vida familiar yo nací en Santiago como te decía mi papa y mi mama fueron migrante de muy jovencitos se fueron a Santiago a buscar nuevos horizontes porque en el campo no había tierra para trabajar y trabajar en un empleo de que son los peores o sea empleada doméstica claro no había educación mi papá llego a segundo básico, mi mamá igual entonces casi analfabeto entonces tenía que ocupar los puestos peores. También hay una desconexión con lo con lo cultural con lo mapuche propiamente, hablemos del idioma no hubo traspaso de idioma y también eso tiene que ver con un tema de protección, eso decía mi papá porque por lo que ellos vivieron si aquí hubo mucha discriminación y no solamente eso, aquí los chicos cuando hablaban el idioma se les golpeaba duramente.
Versão em português
Meu nome é Margarita Calfio Montalva, estudei serviço social, nasci em Santiago e vivo em Temuco há onze anos e me interesso também, meu trabalho, certas questões de gênero, feminismo, mulheres mapuches, mulheres de povos originários. Estas são minhas áreas de interesse; creio que a vida te leva a isso, na realidade não escolhi isso, a vida me levou, é que as mulheres mapuches em geral, por minha experiência, são muito potentes, têm [pausa] um poder impressionante, mas é um poder como que invisível, entende? De fato, uma autora, neste momento não me lembro o nome, mas ela era de fora, dizia que as mulheres eram os pilares invisíveis da sociedade mapuche. Porque são elas que estão em todos os âmbitos, no âmbito econômico, no âmbito social, na questão organizacional. Estão aí trabalhando como formiguinhas, mas nos momentos-chave, não aparecem, não são relevantes nem para a política pública nem para certas organizações mais políticas, e isso historicamente tem sido assim, ou seja, há como que, se ignora esse poder, essa força que têm as mulheres e, de parte das mulheres, creio que ainda há como que um temor, há algo aí, sinto que há como que uma insegurança a respeito do que se faz e das contribuições que elas dão, ou seja, sinto que um, a questão [pausa] do choque cultural é sobretudo da ocupação militar que se fez aqui dos mapuches em 1881-1883, que isso historicamente é bastante recente. Isso influiu para que houvesse uma, bem, há autores que também falam como esta questão do holocausto, o certo é que há um choque muito forte onde há um empobrecimento em todo o âmbito, ou seja, aqui se perdeu mais de 90% do território, creio que restam uns 5% do que era o território ancestral mapuche, e isso obviamente trouxe pobreza, muita gente foi obrigada a emigrar precocemente e houve também rupturas na família e, bem, isso afeta porque há a questão do que falamos antes, um pouco de frustração, há frustração, há raiva, também isso, nós vimos principalmente com a gente jovem. Por esta questão de ser pobre, de ver que tudo que há na memória histórica já não é assim, e essa raiva tem que sair por algum lado, você diz, mas em termos objetivos também há um, eu falo de um empobrecimento. Finalmente, claro, você fala de riqueza cultural, há sabedoria em muitos aspectos, principalmente na saúde, mas na prática cotidiana se vê que não há recursos para levar uma vida com uma boa alimentação, porque também se perderam muitos conhecimentos, pela própria subjugação às instituições, ao Estado, então isso afeta a vida familiar e isso vejo em mim, para que falar de fora se vemos, eu vejo isso na minha própria vida familiar, nasci em Santiago, como eu te dizia, meu pai e minha mãe foram migrantes ainda muito jovens, foram para Santiago buscar novos horizontes, porque no campo não havia terra para trabalhar e trabalhar em um emprego dos que são os piores, ou seja, empregada doméstica, claro, não havia educação, meu pai chegou ao segundo ano do ensino fundamental, minha mãe também, quase analfabetos, então tinham de ocupar os piores postos. Também há uma desconexão com o cultural, com o mapuche propriamente, falemos do idioma, não houve transferência do idioma e também isso tem a ver com uma questão de proteção, isso dizia meu pai, por causa do que eles viveram, aqui houve muita discriminação, e não só isso, aqui os meninos, quando falavam o idioma, eram duramente espancados.
English version
My name is Margarita Calfio Montalva, I studied social services, was born in Santiago and have lived in Temuco for over eleven years, well, in my work I'm also interested in issues of gender, feminism, Mapuche women, native women. Those are my areas of interest; I think life takes you towards things, in reality I didn’t choose this, life brought me here, it’s that Mapuche women in general, in my experience, are very powerful, they have [pause] an amazing power, but it’s an invisible power, you understand? In fact, an author, I don’t remember her name now, but she wasn’t from here, she said the women were the invisible pillars of Mapuche society, because it is they who are in all the areas, the economic, the social, and the organizational. They are there, working like ants, but in the key moments they do not appear, they are not relevant for public policy nor for more political organizations, and it has been this way historically, so, this power is ignored, this strength that the women have and, from part of the women, I believe, there is still fear, there’s something there, I feel that there is kind of an insecurity with respect to what one does and their contributions, I feel that the issue [pause] of the cultural shock is primarily the military occupation that took place here, of the Mapuche, in 1881 – 1883, which is historically quite recent. This influenced so that there was a, well, some authors also speak to this issue of the Holocaust, the fact is that there is a very strong shock where there is an all-around impoverishment, in other words, 90% of the territory was lost here, I believe around 5% remains of what was the Mapuche ancestral territory. This obviously brought poverty, many people were forced to emigrate early and there were also ruptures in the family and, well, this has an affect because there’s the question of what we talked about before – a bit of frustration, there’s frustration, there’s anger as well, we have seen this mostly with young people. The fact of being poor, of seeing that everything in our historical memory is no longer that way, and this anger must escape from somewhere you say, but in objective terms there is also a, I say an impoverishment. Finally, of course, you speak of cultural richness, there is wisdom in many aspects, especially in health, but in everyday practices we see that there are no resources to lead a life with good nutrition, because a lot of knowledge was also lost, by the very subjugation to the institutions, to the State, this affects family life and I see it with me, why speak from the outside if we see, I see this in my own family life, I was born in Santiago, like I was saying, my father and mother emigrated at still a very young age, they went to Santiago in search of new horizons because in the country there was no land to work and work in the worst types of jobs, in other words, as a housemaid, of course, there was no education, my father completed second grade, my mother too, they were almost illiterate, so they had to accept the worst positions. There is also a disconnection with culture, with Mapuche specifically, in terms of the language and this also has to do with a matter of protection, my father used to say that, because of what they lived, there was a lot of discrimination here, and not only that, when the boys spoke the language here, they were severely beaten.
Autoria / Authorship:
Katia Sepúlveda
Narração / Narration:
Margarita Calfio Montalva
* Os áudios do Campo Sonoro foram transcritos e/ou editados visando uma leitura mais acessível / All Soundfield's audios were transcribed and/or edited aiming to produce accessible contents