Gravação a partir das pesquisas que compuseram a obra de Jorge Menna Barreto. Aborda questões como degustação, tomate bombado, bananeira como reserva d´água, floresta morta, o manejo como trabalho escultórico, incentivo à fauna e flora nativa.
A: Então, a gente defende esse trabalho como uma escultura. Só que não é uma escultura nem de madeira nem de mármore, é uma escultura ambiental que a gente chama, então, de pensar que a nossa boca é uma ferramenta escultórica e que aquilo que a gente come vai esculpindo a paisagem e o mundo no qual a gente vive. Fica aberto e embaixo, aí a gente amarra um araminho, faz o molde e aí enrola o jornal, embrulha aqui embaixo, enche de terra, aí com o araminho, você puxa a latinha e tira.
B: Ah, sim...
C: Super legal isso.
A: É... e aí planta com tudo. Eu nem lembrava dessas mudinhas aí. É tomate, não é? A gente fez no dia e ficou. Tomate para caraca daqui.
D: Mas está nascendo?
A: Está! Tudo largado aí, hein.
E: Bárbaro, não é?
A: [risos]
C: Elas estão felizes. [risos]
A: Estão! [risos] Têm que ir para terra.
B: A gente comeu um tomatinho lá no Vandeí, que estava uma delícia.
A: Ah, no Vandeí. Qual que é? Um amarelinho?
B: Ele falou que era um cereja, só que era uma cereja bombada, assim.
A: Ah, é?
B: Parecia quase italiana.
A: É mesmo, é?
A: É, a gente fala que vai deixar uma fabriquinha de baru paras crianças porque estamos plantando bastante baru. Ele vai bem aqui.
D: Está indo bem.
A: Muito bem!
D: Eu fiquei contente agora, quando dei uma olhada, eles tão começando a ficar jovenzinhos. A bananeira ficava literalmente... porque o Ernest falava de côncavos. Ficava lá embaixo. Então, quando chove, a água vem, traz todas aquelas matérias orgânicas, entendeu? Então vai acumulando toda aquela matéria orgânica, para você ver a necessidade que ela tem de água, de matéria orgânica apodrecendo, de vida se transformando. Ela precisa disso. Então se você não tenta imitar, ela...
A: Tá com espinho essa.
D: [...] ela vai ficando fraca.
A: Essa é melissa, não né? Tem espinho...
D: Não, é milho... não, acho que é milho de grilo.
A: Milho de grilo, ah, é! Que dá aquele cachinho, não é?
D: Já ouviu falar?
C: Eu lembrava do cheiro e da imagem...
A: [risos]
D: Aham.
C: Mas eu não sabia o nome. Milho de grilo.
D: Aham, milho de grilo.
C: Nasce uma florzinha, não é?
D: Uma florzinha super bonitinha e um... Faz um cachinho. Tem pequenas sementinhas.
C: Uhum. Eu acho que já tomei já, chá disso.
D: É capaz.
F: A minha filha sempre falava que a floresta de eucalipto é uma floresta morta. Realmente, é uma floresta morta. Porque você vê ali, no máximo, o que? Uma vegetação... Que ele faz o sombreamento, aí nasce uma vegetação bem pobre. O solo é pobre porque o eucalipto acaba deixando o solo mais pobre.
B: Uhum.
F: E do outro lado tem uma floresta nativa. Na mesma estrada. Assim, atravessou a estrada. Naquela estrada você vai encontrar uma diversidade de pássaros. É que eles dificilmente vão atravessar, eles não vão quase voar para o outro lado...
C: Fazer o que lá, não é? [risos]
F: [...] Porque não têm interesse. Fazer o que lá?
G: É, em 25 dias, você colhe rúcula já. Aí você colhe alface, aí já vai colher outras folhas aqui também. Chicória, mostarda, alguma coisa assim. Se não ela fica sofrida assim, pouca folha, fica muita sombra. Quando você faz SAF, tem que equilibrar um pouco isso. Precisa podar um pouco. Então agora é o milho que está bonito, está lá exuberante. Muita folha. Então o sombreiro está embaixo. Então você vai pegar o facão, tirar um excesso de folha deles para abrir luz para cenoura. Daqui a pouco o milho vai e fica só a cenoura. E a berinjela. Por que dura mais.
H: Tem muito problema de tiririca.
G: Tem uma praga.
H: Então para horta é muito difícil...
G: Depois eu mostro para vocês.
H: Você está manejando com tiririca. Você não consegue produzir nada. Então...
G: Ela cresce rápido e abafa a folha.
H: Aham. A intenção aqui é a gente ficar com a horta nesse pedaço. Em época de chuva que a gente tem muito problema de umidade. Fazer um sombrite. Como é que fala? Aquela lona...
G: Barreira? Uma estufa.
H: Uma estufa! Aí fazer um manejo com as galinhas. Por que as galinhas vão eliminar a tiririca também. Fazer tipo piquete: um tempo ela trabalha aqui, outro tempo ela trabalha do lado de lá.
G: Quando chega no verão – dezembro e janeiro que chove muito –, você não consegue produzir folha. Então você tem que ter uma área coberta, para controlar a umidade daquela área para produção de folha. Por que alface apodrece com muita água.
H: Aqui a gente teve muita dificuldade com follhosas agora nesse verão, por conta disso. Então a gente está planejando para no futuro fazer desse jeito. A única coisa que inibe a tiririca é sombrear ela. Você sombreando e dá impressão que ela morreu. Mas ela está ali. Você abriu a clareira, ela volta.
G: Ela gosta de terra úmida e sol. Se sombrear ela um pouco, ela fica fraca.
C: Entendi.
I: Aí o diferencial desse trabalho que a gente está fazendo aqui é a cobertura. Adubação verde, na verdade. Essas folhinhas que tu está vendo são de eucalipto. A gente podou os eucaliptos e colocou as folhas aqui sem picar. Primeiro a gente faz uma camada de folha de glicerídea, que é essa aqui do meio, que é uma leguminosa. Ela está aqui ainda. Eu não considero ela uma cobertura, eu considero ela uma adubação verde, por que ela é rica em nitrogênio. Depois vieram as folhas de bananeira, que têm pouco nitrogênio, tem mais água, e as folhas de eucalipto por cima. Já teve uma decomposição e isso aqui eu já estou usando como uma adubação de base. Em seguida, vai ser colocado um pouco de composto de esterco de galinha, e um pouco de cinza, de acordo com o solo que a gente fez aqui desse canteiro.
[no carro, andando na estrada]
G: Como eles não nascem no canteiro que a gente não deixa, eles nascem em volta do canteiro.
J: Uhum.
G: Eu já falei, olha: “Para que ficar brigando para ter a alface? Só preparar o canteiro e deixar nascer só, e pronto...”.
[risos]
G: [...] só comer depois [risos], não precisa nem plantar [risos].
[barulho do carro na estrada]
G: Não sabe o que eu arranquei de berduego ali em volta daquele canteiro! Por que estava tomando conta.
J: Ah, é?
G: [...] estava fechando esse canteiro. Agora, está mais seca. Berduego não nasce muito, porque ele gosta de água.
[passos na folhagem]
C: Não funciona nem para doce de...
K: De mamão verde?
D: Eu só encostei, ele caiu da mão...
C: Apodrecer... É...
G: Quer levar o mamão?
[Barulho de mastigação]
G: Esse aqui está verde ainda.
C: Está bom?
D: Delícia. [mastigando]
G: Esse é caipira, esse aqui.
D: Docinho esse tomate, não tem acidez.
G: Bom, esse é o cereja que fala, não é?
D: Ah, esse é um cereja... Cerejão. [risos]
G: [risos]
C: Ah, esse é o cereja, pensei que fosse o italiano, que ele é meio compridinho.
G: Não, é o cereja esse aí. É um cereja mais gigante um pouco assim...
D: Gente, esse mamoeiro lotado.
C: Olha isso!
G: Esse é o caipira que é formosa... E tem uns papayas que são aqueles pequenininhos lá.
[barulho de passos no mato]
C: São bonitos esses daí.
G: É.
[barulho de passos no mato]
G: Esses ficam bonitos no meio do mato assim. Fechado. Em lugar aberto ela adoece.
[barulho de passos no mato]
D: Hum... não é ácido?
C: Não.
D: Eu estou sentindo gosto de manjericão, não sei se é da minha cabeça [risos].
A: A gente tem feito essas gravações. Viu que a gente está carregando esses equipamentos todos. Câmera fotográfica para registrar esse momento. E algo que nos interessa muito é isso que a gente está ouvindo agora aqui, esses barulhos de bichos, de insetos, isso é algo muito importante.
Autoria / Authorship:
Jorge Menna Barreto, Marcelo Wasem
Decupagem, criação e edição / Decoupage, creating and editing:
Izabel Süssekind, Marcelo Wasem, Mariana Brum, Nathan Braga, Thatiana Montenegro, Vitor Rocha, Yago Toscano
* Os áudios do Campo Sonoro foram transcritos e/ou editados visando uma leitura mais acessível / All Soundfield's audios were transcribed and/or edited aiming to produce accessible contents