Gravação a partir das pesquisas que compuseram a obra de Jorge Menna Barreto. Aborda questões como origem genética das plantas, comunicação pelas raízes, 14 variedades, movimentação das toceiras de bananas, plantas como seres inteligentes e que se comunicam entre si.
A: Como é que vou fazer… Qual é o problema destas touceiras? Estas touceiras estão velhas, praticamente elas não estão mais produzindo. O manejo que eu faço, aqui nelas, é dividir elas em três. Vai deixar, três pés, dois pés…. Fazer com que ela volte a se reproduzir… Então, eu vou deixar ela andar para um lado, outra vai para outro lado e outra vai para frente. Eu divido praticamente esses três assim. [ruído] Uma dessas aqui eu vou rodando para lá [ruído]… Se puder limpar, de preferência [ruído]…
B: Acho que é melhor tirar estas daqui e deixar ela correr para lá.
A: Andar para lá.
B: Para ela não vir dominado aqui. Aqui tem uma…
A: Então quer dizer que esta pode cortar?
B: Pode cortar…, mas antes tem que fazer uma análise da touceira. Onde é melhor para você manejar. Aquela ferramenta é ótima só com corte. A gente consegue jogar ela aqui para o chão. Jogar para o chão desse jeito aqui, depois só a gente juntar e vir recolhendo. O mais baixo que você conseguir cortar, melhor… Aí é melhor a gente dividir aqui, se não a gente vai ficar batendo… Depois que limpar, aí ela fica mais vigorosa, vai dar uma boa ventilação, vai conseguir produzir melhor [ruído].
A gente deixa só esta…este meio aqui pode tirar, é?
A: Essa daqui pequenininha do meio pode tirar, essas também pode tirar [ruído]. É a opção que você pode fazer. Fica bonita, não? Dá uma dor! Imagina eu? Poxa, corta?
C: A poda é muito necessária.
A: É necessária. Na bananeira, então. É que nestes últimos anos eu fui estudar na Europa e aí tive que deixar tudo aqui praticamente abandonado. Estava a minha companheira grávida, trabalhando, então eu não consegui fazer nada [ruído]. Aí agora que eu retornei.
D: Nossa, ela sai pingando, não é, Hemes?
A: É muita água.
D: Praticamente uma…
A: É, uma caixa d’água, é uma caixa d’água…
A: Aí a gente lembra que a história dele é que as árvores do alto perdem folha na época da seca. Então, quando tem a entrada de matéria orgânica e de luz pra ele…
B: Isso pensando que…
A: Que ele é originário da Etiópia.
C: Africana?
A: Africana.
C: É. A origem da planta é muito importante.
A: De onde ela vem.
C: Isso é muito importante na agrofloresta.
A: Teria que saber de todas as plantas.
C: De todas! É.
A: De que ambiente ela é, de onde ela vem. Qual o ecossistema, como funciona aquele ecossistema?
C: Como é no ambiente de origem. Se fica lá em cima, fica lá embaixo.
A: Ecossistema que recebe muita inundação de rio, então precisa estar sempre jogando matéria orgânica. Entendeu? É um ambiente mais parado. São ambientes que têm um fluxo de vento que sempre está quebrando as árvores.
C: Muita dinâmica, não é? Muita dinâmica. Então são plantas com estas características.
A: Tem que conhecer a origem da planta. É. Eu falo que o carro-chefe aqui é banana. Porque a banana é uma planta que vai bem aqui, ela gosta de clima quente e [ruído] aqui não é úmido. Ela prefere clima úmido, mas aqui não é tão úmido, mas tem a terra boa. A terra aqui não chega a ser terra roxa. Mas é uma terra vermelha. Bem produtiva. Mas a ideia nossa é a produção de banana. Carro-chefe, não é?
B: Qual banana?
A: Nanica, maçã, prata. São as que mais se planta aqui. A gente consegue plantar catorze variedades aqui. A gente comprou de laboratório, mudas diversificadas, para trazer mais variedade para cá. A gente conseguiu plantas bastante variadas, mas as que vão bem mesmo são nanica, nanicão, prata e maçã. Que o pessoal cuida mais. Mas a gente tem plantado de tudo. Mamão, a gente produziu bastante também, e folhas e legumes também. A gente produz muito também. Aí mais no lote, que tem mais irrigação, mais cuidado no dia a dia mesmo [...] um diálogo lá embaixo, assim, subterrâneo.
B: Total. E tem uma teoria do Ernest, que é exsudato de raiz, que as plantas têm uma comunicação assim. E eu acho que especialmente pela raiz. Só seria pela raiz mesmo. Que justamente você plantar… Você que me perguntou: “Se você entrar com uma mudinha nova?”.
C: Isso!
B: “Embaixo de uma planta madura”... esta planta, ela está com todo hormônio de planta madura, adulta. Aí você vai entrar com uma criancinha. Aí você poda ela, porque as raízes vão lançar hormônios de crescimento, de rebrota, e vão ajudar, este hormônio vai lançar para jovenzinha aqui o hormônio de crescimento.
C: Ah…
A: Solta o hormônio de rebrota, pelo exsudato, pela raiz. Então a raiz da outra aqui, ela pega. E aí, às vezes é o contrário: se estiver em uma planta morrendo ou bem madura, velha. Aí, se plantasse, mas não vai de jeito nenhum. Ficar aqui estagnado, naquela energia de maturação que está indo para morrer. Então a lógica da poda é essa…
C: Que sofisticação, né?
B: Super, não é? Essa parte aí tem fisiologistas pesquisando, até gostaria de ler, mais cientificamente é isso aí… Porque é bem bonito, não é?
C: Nossa! Demais!
Autoria / Authorship:
Jorge Menna Barreto, Marcelo Wasem
Decupagem, criação e edição / Decoupage, creating and editing:
Izabel Süssekind, Marcelo Wasem, Mariana Brum, Nathan Braga, Thatiana Montenegro, Vitor Rocha, Yago Toscano
* Os áudios do Campo Sonoro foram transcritos e/ou editados visando uma leitura mais acessível / All Soundfield's audios were transcribed and/or edited aiming to produce accessible contents