30 dias na Rota do Tabaco, por Dalton Paula

Dalton Paula relata, em imagens e texto, os trinta dias passados na cidade de Cachoeira, na Bahia, onde refez o percurso conhecido como Rota do tabaco - título que também dá ao projeto que apresenta na #32bienal. Confira:

"Esses trinta dias vividos na cidade de Cachoeira/BA me possibilitaram concluir essa rota que ainda estava por se completar. Pude observar as várias relações que as pessoas desenvolvem com o tabaco".


Desfile cívico de 25 junho na Bahia (reverência às lutas pela independência do Brasil)

"Em Cachoeira e São Félix, ao conversar com pessoas mais velhas, que trabalharam nas fábricas de charuto, além de benzendeiras, rezadeiras e mães de santo, tive a oportunidade de ouvir histórias e experiências com o tabaco, a erva em si, seus significados simbólicos e ritualísticos, seu cultivo e produção.

O acesso ao Acervo Público de São Félix foi fundamental para compreender por meio de fotografias e documentos históricos a relevância do tabaco como atividade político-econômica, assim como símbolo de riqueza e poder de determinado grupo social, como evidenciado na iconografia das embalagens, nas fotos de família e nas publicações oficiais, bem como no cadastro de empregados da fábrica Dannemann".


Saveiros no porto de São Félix/BA - Acervo público da cidade


Rótulos para colagem nas caixas de charutos de Geraldo Dannemann


(dir) Fábrica incorporada pela Danneman & Companhia
(esq) Juanita, uma das 160 marcas da Danneman & Companhia

"Ao acompanhar a queima de louças em Coqueiros/BA, conheci Dona Cadu, uma mestra ceramista de 96 anos com quem aprendi um pouco mais sobre as origens e funções ritualísticas das peças no contexto daquela pequena comunidade. Em Maragogipinho, cidade que abriga a maior olaria da América Latina, conversei com vários mestres oleiros sobre as peças e seu fazer, sua prática artística que se articula com o mangue, ecossistema predominante nessa região".


Queima de louças em Coqueiros/BA


Alguidares de Maragoapinho/BA

"A visita aos quilombos Kaonge e Dendê me permitiu observar a coexistência de antigos engenhos (e sua referência histórica da população negra como mão-de- obra) com outras formas de re(existência) negra baseadas em conhecimentos ancestrais que são vividos, transmitidos e reelaborados no cotidiano dos moradores. Por fim, também pude, a partir da visita à Fazenda/Fábrica de charutos Dannemann, comparar semelhanças e diferenças quanto ao cultivo e a produção do tabaco aqui e em Cuba, concluindo assim essa rota imaginária, que utiliza essa planta, suas propriedades e significados medicinais e ritualísticos como elemento para transitar por espacialidades, práticas e saberes que tem em comum uma forma social negro-diásporica".


Fazenda Dannemann


Semente/Sementeira


Semente de tabaco