2 de março a 23 de abril de 2017
ter-sáb: 9h30 - 21h; dom: 16h - 21h
Palácio das Artes
Av. Afonso Pena, 1537 - Centro - Belo Horizonte - MG
www.fcs.mg.gov.br
T: (31) 3236 7400
Entrada Gratuita
Artistas Selecionados
Alia Farid
1985, KUWAIT. VIVE NO KUWAIT E EM PORTO RICO
Alia Farid trabalha num campo híbrido entre arte e arquitetura, estimulando o pensamento crítico sobre os espaços urbanos. Seus projetos se manifestam na forma de intervenções, vídeos e instalações. Para a 32a Bienal, a artista desenvolveu um vídeo nas construções da Feira Internacional Rashid Karami em Trípoli, Líbano (1963). Este complexo arquitetônico foi desenhado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, assim como alguns prédios do Parque Ibirapuera em São Paulo (1953) – construídos para o IV Centenário da cidade. Ambos são projetos de grandes proporções voltados para o convívio e para o uso público. Contudo, a história de cada cidade acarretou desdobramentos distintos. Enquanto o parque é conhecido como um dos espaços culturais e de lazer mais importantes de São Paulo, a feira em Trípoli teve sua construção interrompida em 1975 por problemas financeiros e como consequência da Guerra Civil Libanesa, que perdurou até 1990. Em estado permanente de ruína, essas estruturas já abrigaram munição, milícias e refugiados, e são usadas para shows e como espaço de lazer. O filme Ma’arad Trablous [A exposição de Trípoli] (2016) trata da adaptação, tradução e uso de conceitos da arquitetura para regiões geográficas distintas e de como essas construções atuam em diferentes circunstâncias culturais, sociais e políticas.
Ana Mazzei
1980, SÃO PAULO, BRASIL. VIVE EM SÃO PAULO
Em suas obras, Ana Mazzei parte da literatura e do teatro para materializar diversas situações de observação e de encenação na forma de instalações, esculturas, desenhos, fotografias e performances. Ao utilizar o imaginário de narrativas épicas ou mitológicas, suas instalações sugerem uma performance na qual não fica claro se o público observa ou se é observado. Os objetos e as esculturas de Mazzei são entendidos em relação ao corpo e questionam noções de orientação, posicionamento e organização que dirigem a maneira como nos relacionamos com o espaço. A artista evoca imagens recorrentes da história da pintura, muitas delas metáforas bíblicas, mas também simbolismos políticos e especulações científicas e filosóficas sobre o universo. Ao estudar a “posição de êxtase”, por exemplo, tão presente na história da arte ocidental, faz convergirem o gestual do sagrado e os sintomas atrelados aos primeiros estudos da psiquiatria, quando essa posição era associada a quadros de histeria. Com a obra Espetáculo (2016), Mazzei propõe um novo território de atuação, em que objetos são colocados em uma situação ambígua: como protagonistas de um teatro sem ação ou plateia de uma ativação que ocorre no corpo do visitante. Suas formas remetem a objetos de estudos astrológicos, ou à aparelhagem de uma ciência diferente da que conhecemos.
Bárbara Wagner
1980, BRASÍLIA, BRASIL. VIVE EM RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL
O brega é música, dança, cena cultural e economia criativa na periferia do Recife. Em duas linhagens, funk e romântico, constitui uma cadeia de MCs, DJs, bailarinos, produtores, empresários e público. Seus hits – eróticos, irônicos, lamuriosos e, em alguns casos, ainda machistas – extrapolam os limites socioeconômicos dos bairros e participam da paisagem sonora de uma cidade convulsiva em suas diferenças. A artista Bárbara Wagner, em parceria com Benjamin de Burca, desconstrói esse fenômeno no filme Estás vendo coisas (2016) e o analisa tornando visíveis as singularidades, as errâncias e também algumas relações entre seus agentes. A boate Planeta Show abrigou o experimento de um retrato coletivo e filmado, que, nessa condição, desafia o caráter preciso da fotografia. O resultado não deixa de ser documental, mas é parcialmente ofuscado pela luz artificial de estúdio, camarim, palco e tela, com personagens que encenam a si mesmos.
Carolina Caycedo
1978, LONDRES, REINO UNIDO. VIVE EM LA JAGUA, COLÔMBIA, E LOS ANGELES, CALIFÓRNIA, EUA
Carolina Caycedo volta sua prática para a discussão de contextos impactados por grandes obras infraestruturais de caráter desenvolvimentista. Em sua pesquisa recente, analisa os danos ambientais e sociais atrelados à construção de barragens e ao controle dos cursos naturais da água. Por meio do envolvimento com grupos e comunidades afetadas por essas transformações, a artista investiga ideias de fluxo, assimilação, resistência, representação, controle, natureza e cultura. A Gente Rio–Be Dammed [A Gente Rio–Barrado seja] (2016) é um projeto que compreende pesquisas em arquivos, estudos de campo e atividades com comunidades ribeirinhas abaladas pela privatização das águas. A Gente Rio (2016), pesquisa produzida para a 32ª Bienal, trata da vida implicada nesses rios e em suas margens. A obra é composta por distintos elementos, como montagens de fotografias de satélite das usinas hidrelétricas de Itaipu e de Belo Monte e do antes e depois do rompimento da represa de Bento Rodrigues (Mariana, MG); um vídeo feito por Caycedo nessas regiões; tarrafas coletadas durante seus estudos de campo inseridas nos vãos entre os andares do Pavilhão da Bienal; e desenhos que contam as narrativas dos rios Yuma (Colômbia), Yaqui (México), Elwha (EUA), Watu, conhecido como Rio Doce e Iguaçu (Brasil) como entidades vivas dotadas de histórias próprias.
Charlotte Johannesson
1943, MALMÖ, SUÉCIA. VIVE EM SKANÖR, SUÉCIA
Instruída em tecelagem, Charlotte Johannesson começou a fazer tapeçarias como arte nos anos 1970. Seus trabalhos satirizavam a política tradicional e muitas vezes consistiam em comentários feministas e engajados sobre acontecimentos globais. Como reação ao golpe militar do general Augusto Pinochet em 1973, por exemplo, ela produziu Chile Echoes in My Skull [O Chile ecoa no meu crânio] (1973/2016), no qual se põe na posição de testemunha atormentada e tece uma imagem de sangue derramando de veias abertas da América Latina. Em 1978, Johannesson trocou seu tear por um Apple II Plus, a primeira geração de computadores pessoais. Aprendendo a programar sozinha, ela adotou as mesmas medidas que usava no tear para o computador (239 pixels na horizontal e 191 pixels na vertical). Financiada pelo Departamento Nacional Sueco de Tecnologia e Desenvolvimento, ela fundou o Digital Theatre [teatro digital] com seu parceiro Sture Johannesson, em Malmö, na Suécia. Enquanto existiu, entre 1981 e 1985, o Digital Theatre foi uma tecno-utopia em miniatura e o primeiro laboratório de arte digital da Escandinávia. Charlotte Johannesson se dispôs a criar “micro-performances”: gráficos digitais em tela e impressos, e experimentos com computadores em tempo real.
Dalton Paula
1982, BRASÍLIA, BRASIL. VIVE EM GOIÂNIA, GOIÁS, BRASIL
Na obra de Dalton Paula, objetos são destituídos de suas funções originais para se tornarem suporte da pintura. Primeiro as enciclopédias, antigas detentoras de um conhecimento universalista, tiveram suas capas sobrepostas por representações de sujeitos e saberes comumente omitidos em seu conteúdo, como negros e indígenas. Agora esse procedimento se repete sobre um conjunto de alguidares, pratos cerâmicos que recebem a comida e também as oferendas em rituais de religiões afro-brasileiras. Com a pintura em seu interior, esses objetos confrontam os discursos hegemônicos da arte e da política, buscam novos personagens e reencenam passagens de nossa história. Piracanjuba, em Goiás, Cachoeira, no Recôncavo Baiano, e Havana, em Cuba, são cidades produtoras de tabaco. Essa atividade econômica remonta ao passado colonial e à migração de africanos escravizados nas Américas. Paula viajou aos três pontos dessa Rota do tabaco (2016) para pesquisar como essa herança se apresenta hoje. Encontrou desde a precariedade dos meios de trabalho nas fábricas de cigarrilhas até o uso dos charutos como ícone da revolução comunista. No vasto imaginário retratado, o fumo é um contexto omitido que revela o contraste entre corpos negros e roupas brancas, entre a invisibilidade da cultura afro-brasileira e os legados de cura – medicinal e espiritual – extraídos do tabaco.
Ebony G. Patterson
1981, KINGSTON, JAMAICA. VIVE EM KINGSTON E LEXINGTON, KENTUCKY, EUA
Ebony G. Patterson parte de referências da pintura para compor cenas e retratos que se relacionam com a cultura popular e o forte contexto de violência caraterístico de diversas comunidades em Kingston, Jamaica. Transitando por técnicas variadas, a artista tem a fotografia como primeira etapa na elaboração de suas composições. Transforma as imagens em tapetes que, por meio de colagens, recebem camadas de tecidos e ornamentos. Os painéis de grande dimensão que daí derivam exploram o excesso de material, brilho e cor como forma de lançar luz sobre a necessidade de distinção por meio de bens de consumo e opulência, comportamento intimamente ligado a procedimentos de opressão social. A despeito da superfície colorida, as cenas retratam, de modo quase mimético, corpos estendidos no chão, assim como momentos casuais de convivência na rua. O conjunto de painéis apresentado na 32ª Bienal é uma tentativa de traçar paralelos entre os contextos socioculturais do Brasil e da Jamaica. Reagindo aos altos índices de assassinato de crianças e jovens negros nos dois países, Patterson retrata uma infância que é potência de criação e transformação, e que, ao mesmo tempo, padece diante de sistemas excludentes e violentos.
Felipe Mujica
1974, SANTIAGO, CHILE. VIVE EM NOVA YORK, EUA
Os projetos de Felipe Mujica se organizam a partir de duas formas principais de atuação: de um lado, sua pesquisa visual, que envolve a criação de instalações de painéis de tecido móveis e interativos; de outro, a organização colaborativa de exposições, publicações e gestão de espaços culturais. Permeia essa atuação a investigação sobre o passado recente da arte latino-americana, com interesse específico por experiências que aproximam educação e arte moderna. Aspecto fundamental de seu método de trabalho é a abertura da obra ao diálogo com outros artistas, com o público e com comunidades. No projeto Las universidades desconocidas [As universidades desconhecidas] (2016), Mujica trabalha em parceria tanto com os artistas brasileiros Alex Cassimiro e Valentina Soares, como com o grupo Bordadeiras do Jardim Conceição, formado por cerca de quarenta moradoras desse bairro na cidade de Osasco. A partir de desenhos realizados pelo artista, os grupos de colaboradores criaram e confeccionaram as cortinas que compõem a instalação. Produzidas com os mesmos materiais e técnicas distintas, as peças costuram saberes pessoais formados por diferentes repertórios e experiências, unidos agora como lados complementares de uma mesma realidade: o trabalho criativo coletivo.
Francis Alÿs
1959, ANTUÉRPIA, BÉLGICA. VIVE NA CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO
A obra de Francis Alÿs baseia-se em ações propostas ou praticadas pelo artista, que se desdobram em vídeos, fotografias, desenhos e pinturas. Frequentemente evocando uma sensação de absurdo ou insensatez, seus trabalhos pesquisam criticamente situações políticas, sociais e econômicas na vida contemporânea. A instalação concebida para a 32ª Bienal consiste em pinturas de paisagem e um filme de desenhos animados, todos Untitled [Sem título] (2016). Esses elementos estão instalados em paredes de espelhos, que revelam o verso dos desenhos e pinturas, fixados com alguma inclinação. As imagens refletidas do público e do espaço expositivo tornam-se também parte integrante do projeto, o que nos convida a questionar qual é a nossa relação – e do ambiente institucional e urbano em que estamos inseridos – com as diferentes situações e noções de catástrofe discutidas por Alÿs.
Gilvan Samico
1928, RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL – 2013, RECIFE
Gilvan Samico apresenta em suas gravuras mitos e cosmologias repletos de simbologias. Suas composições têm a simetria e a verticalidade como valores que organizam narrativas sobre a natureza – sendo homens e mulheres parte desse ambiente – e instâncias sagradas que se relacionam com a vida terrena. Iniciou sua prática artística como autodidata no Recife, mas depois estudou sob tutela de Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi. A impressão de suas gravuras era feita de forma minuciosa e manual. A produção de cada peça presente na 32ª Bienal levou um ano de trabalho do artista, entre 1975 e 2013. Influenciado pela arte popular nordestina, Samico tem como referência a literatura de cordel e o Movimento Armorial, sendo o encontro com o escritor Ariano Suassuna um importante ponto de inflexão em sua trajetória. Partindo de narrativas locais, Samico traça uma história visual que engloba cosmologias sobre a formação do mundo e o estudo de livros como a trilogia Memoria del Fuego, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, publicada entre 1982 e 1986. Assim, os títulos das obras funcionam como chaves de leitura que, junto às imagens, revelam camadas que pertencem e povoam o imaginário de tantas culturas.
Grada Kilomba
1968, LISBOA, PORTUGAL. VIVE EM BERLIM, ALEMANHA
Grada Kilomba é uma escritora, teórica e artista que ativa e produz saber descolonial ao tecer relações entre gênero, raça e classe. Sua obra dispõe de formatos e registros distintos, como publicações, leituras encenadas, performances-palestras, videoinstalações e textos teóricos, criando um espaço híbrido entre conhecimento acadêmico e prática artística. É partindo do gesto duplo de descolonização do pensamento e de performatização do conhecimento que Kilomba salta do texto à performance e dá corpo, voz e imagem a seus escritos. Na 32ª Bienal, a artista mostra dois projetos diferentes. The Desire Project [O projeto desejo] (2015-2016) é uma videoinstalação dividida em três momentos: While I Speak, While I Write e While I Walk [Enquanto falo, enquanto escrevo, enquanto ando], vídeos cujo principal elemento visual é a palavra e que indicam a aparição de um sujeito enunciador historicamente silenciado por narrativas coloniais..
Güneş Terkol
1981, ANKARA, TURQUIA. VIVE EM ISTAMBUL, TURQUIA
Güneş Terkol desafia os imaginários relacionados ao feminino a partir de histórias pessoais ou coletivas compartilhadas por mulheres em oficinas que organiza para sua pesquisa e processo de trabalho. O bordado, prática culturalmente atribuída ao ambiente doméstico e ao labor da mulher, ganha camadas públicas e políticas em sua produção. Na 32ª Bienal, são apresentadas as séries Couldn’t Believe What She Heard [Não posso acreditar no que ela ouviu] (2015) e The Girl Was Not There [A menina não estava lá] (2016), essa última comissionada para a exposição. Na primeira, em uma montagem aberta, Terkol cria imagens nas quais elementos relacionados ao estereótipo do “universo feminino” – unhas esmaltadas, cabelos, sapatos – são contrastados com fragmentos de corpos cujo sexo não é possível identificar. Na segunda série, a artista resgata o caráter místico e idílico da natureza. A coloração se origina de materiais orgânicos, como cebola, folhas de tabaco, abacate e beterraba, e compõe paisagens ou cenas que mesclam elementos ornamentais, molduras vazias e figuras inventadas. O tecido utilizado subverte a aparente fragilidade das obras e sua transparência possibilita entrever as composições, multiplicando e desconstruindo os imaginários do feminino e da natureza.
Jonathas de Andrade
1982, MACEIÓ, ALAGOAS, BRASIL. VIVE EM RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL
Jonathas de Andrade trabalha com suportes variados, como instalação, fotografia e filme, em processos de pesquisa que têm profundo caráter colaborativo. Sua obra discute a falência de utopias, ideais e projetos de mundo, sobretudo no contexto latino-americano, especulando sobre sua modernidade tardia. Em seu trabalho, afetos que oscilam entre a nostalgia, o erotismo e a crítica histórica e política são agenciados para abordar temas como o universo do trabalho e do trabalhador, e a identidade do sujeito contemporâneo, quase sempre representado pelo corpo masculino. O filme O peixe (2016), apresentado pela primeira vez na 32ª Bienal, acompanha pescadores pelas marés e pelos manguezais de Alagoas, que utilizam técnicas tradicionais de pesca, como rede e arpão, na espera pelo tempo necessário para capturar a presa. Cada pescador encena uma espécie de ritual: eles retêm os peixes entre seus braços até o momento da morte, uma espécie de abraço entre predador e presa, entre vida e morte, entre o trabalhador e o fruto do trabalho, no qual o olhar – do pescador, do peixe, da câmera e do espectador – desempenha papel crucial. Situada num território híbrido entre documentário e ficção, a obra dialoga com a tradição etnográfica do audiovisual.
Mmakgabo Helen Sebidi
1943, MARAPYANE, ÁFRICA DO SUL. VIVE EM JOANESBURGO, ÁFRICA DO SUL
Nascida na vila de Marapyane, Mmakgabo Helen Sebidi aprendeu com a avó técnicas tradicionais de pintura em parede e cerâmica. Mudou-se para Joanesburgo adolescente e, entre as décadas de 1970 e 80, participou de cursos e ateliês em espaços que proporcionaram o contato com outros artistas e um ambiente politizado, o que impactaria a temática de seus trabalhos. Sebidi retrata experiências cotidianas e sabedorias ancestrais, assim como mostra o sofrimento infringido pelo contexto do apartheid, especialmente para mulheres negras. De seus professores e colegas artistas ela absorveu técnicas de colagem e elementos abstratos, gerando o emblemático díptico Tears of Africa [Lágrimas da África] (1987-1988), presente na 32ª Bienal. A obra, produzida em carvão, tinta e colagem, trata de conflitos continentais assim como da aspereza das relações humanas no cotidiano da cidade grande e suas decepções, agravadas pela degradação das estruturas familiares e pelo regime de segregação que vigorou oficialmente na África do Sul de 1948 a 1994. Novas obras, criadas durante sua residência artística em Salvador, na Bahia, e presentes na exposição, geram uma conversa entre o Brasil e o continente em que Sebidi nasceu e ativam um diálogo entre os dois trabalhos.
Pierre Huyghe
1962, ANTONY, FRANÇA. VIVE EM SANTIAGO, CHILE E NOVA YORK, EUA
Os trabalhos de Pierre Huyghe desafiam as fronteiras entre ficção e realidade. Sua obra se materializa em meios como filme, situações ou exposições, operando, por vezes, como ecossistemas – jardins, aquários ou um museu com microclima programado. Huyghe inclui em sua prática elementos que desafiam a noção de objeto de arte. Tanto o público quanto outros organismos podem ser incorporados dentro de uma rede dinâmica a fim de criar um grande organismo vivo em constante evolução.
Priscila Fernandes
1981, COIMBRA, PORTUGAL. VIVE EM ROTERDÃ, HOLANDA
Em sua produção, Priscila Fernandes reflete sobre o impacto dos contextos industrial e pós-industrial na vida dos indivíduos e em sua percepção sensorial. Em vídeos, publicações, desenhos, pinturas, performances e instalações sonoras, ela aborda as disputas sociais que estão no centro de decisões estéticas de diferentes movimentos modernos. Na 32ª Bienal, Fernandes apresenta três imagens fotográficas, um conjunto de mobiliário e um filme, que constituem a instalação GOZOLÂNDIA E OUTROS FUTUROS (2016). Realizadas por meio de um processo de técnica mista, as imagens são resultado da impressão de negativos expostos à luz, e nos quais a artista intervém por meio de pintura, perfurações e riscos. O mobiliário, um conjunto de cadeiras de praia, convida o público a um momento de pausa, embora de forma ambígua, pois, diante das obras, o visitante se encontra entre contemplação e análise, distração e atenção, descanso e trabalho. O filme, realizado inteiramente no Parque Ibirapuera, faz referência ao país da Cocanha, mito medieval sobre a existência de um lugar onde há comida abundante, clima ameno e onde o trabalho é desnecessário. A instalação articula relações entre a estética da abstração e a dicotomia trabalho/ócio, atualizando essa discussão para o contexto de hoje.
Rachel Rose
1986, NOVA YORK, EUA. VIVE EM NOVA YORK
Em seus vídeos e instalações, Rachel Rose constrói narrativas por meio de processos de edição, utilizando a livre e abundante circulação e associação de vídeos e imagens. A sobreposição de camadas, procedimento comum à pintura, é aplicada aqui a arquivos digitais, criando uma imagem híbrida com forte potencial sinestésico. A Minute Ago [Um minuto atrás] (2014) é uma reflexão sobre a experiência da catástrofe, que mescla um vídeo encontrado no YouTube de uma súbita tempestade de granizo em uma praia com relatos do arquiteto americano Philip Johnson em sua Casa de Vidro, que, por sua vez, são confrontados com a reprodução da pintura "O funeral de Phocion" (1648), do francês Nicolas Poussin, entre outros elementos.
Vídeo nas Aldeias
CRIADO EM 1986. BASEADO EM OLINDA, PERNAMBUCO, BRASIL
Há três décadas, o Vídeo nas Aldeias tem mobilizado debates centrais aos povos indígenas e à produção e difusão audiovisual. O projeto tem como um de seus objetivos a formação de realizadores indígenas, desestabilizando narrativas forjadas com base no olhar externo. Questões éticas e escolhas estéticas são entrelaçadas em seus projetos, que tratam de assuntos como rituais, mitos, manifestações culturais e políticas, e experiências de contato e de conflito com os brancos. Fundado pelo indigenista Vincent Carelli, Vídeo nas Aldeias capta recursos e circula seus trabalhos, realiza exibições em comunidades indígenas, festivais de cinema, televisão, internet e elabora materiais didáticos. Para a 32ª Bienal, Ana Carvalho, Tita e Vincent Carelli criaram a instalação inédita O Brasil dos índios: um arquivo aberto (2016), que configura um espaço de imersão em imagens, gestos, cantos e línguas de vinte povos distintos, entre eles os Xavante, Guarani Kaiowá, Fulni-ô, Gavião, Krahô, Maxakali, Yanomami e Kayapó. Reunidos por sua força discursiva e imagética, os trechos constituem mais um ponto de resistência coletiva às tentativas de invisibilidade e apagamento de grupos indígenas e provocam uma ampla reflexão sobre alteridade e convenções de perspectivas culturais.
Wilma Martins
1934, BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS, BRASIL. VIVE NO RIO DE JANEIRO, BRASIL
Wilma Martins relaciona-se com seu entorno por meio de desenhos, gravuras e pinturas. Na série Cotidiano (1975-1984), seu processo de trabalho consiste em vários estágios, nos quais desenhos e pinturas vêm de e voltam para seus cadernos, como revisitações – ora os desenhos são esboços de pinturas posteriores, ora são registros de uma composição que já nasceu na tela. Os espaços domésticos, aparentemente ordinários, são habitados por animais silvestres e cobertos por matas e rios que “esparramam-se” ou surgem por frestas do dia a dia, como uma pia repleta de louça e as dobras de um cobertor. Jogando com escalas e cores, a artista torna visível a coexistência de universos supostamente incompatíveis. Em sua obra, o que poderia estar à espreita no inconsciente emerge para atravessar inesperadamente a rotina e ocupá-la com uma atmosfera insólita. Morando no Rio de Janeiro desde a década de 1960, Martins contempla vistas a partir de sua casa, hábito que cultiva para criar as telas das paisagens.
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