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Fortaleza

7 de novembro de 2017 a 28 de janeiro de 2018
ter-sex: 9h - 19h (entrada até 18h30); sáb, dom e feriados: 14h - 21h (entrada até 20h30)

  

Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura

Rua Dragão do Mar, 81, Fortaleza - CE
dragaodomar.org.br

Entrada Gratuita

Agendamento educativo
seg-sex: 9h - 17h
Contatos: mac@dragaodomar.org.br / (85) 3488 8621

  

Artistas Selecionados

Antonio Malta Campos

1961, SÃO PAULO, BRASIL. VIVE EM SÃO PAULO

Na trajetória de Antonio Malta Campos, iniciada em meados dos anos 1980, observa-se uma pesquisa plástica contínua em torno do desenho e da pintura, valendo-se de um amplo repertório visual que se estende desde os paradigmas artísticos modernistas até as linguagens da cultura de massa. Tanto em seus dípticos de grande dimensão, quanto no conjunto de pequenos exercícios gráficos – denominados “misturinhas” – ficam evidentes o apuro técnico do artista e sua insurgência contra o conforto visual das precisões geométricas e das distinções entre o abstrato e o figurativo. Nas pinturas apresentadas, o artista, com assistência de Antonia Baudouin, faz colidir a tradição harmônica do formalismo pictórico com uma ironia gráfica, criando anamorfismos, contrastes cromáticos e alterações de escala.

Bárbara Wagner

1980, BRASÍLIA, BRASIL. VIVE EM RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL

O brega é música, dança, cena cultural e economia criativa na periferia do Recife. Em duas linhagens, funk e romântico, constitui uma cadeia de MCs, DJs, bailarinos, produtores, empresários e público. Seus hits – eróticos, irônicos, lamuriosos e, em alguns casos, ainda machistas – extrapolam os limites socioeconômicos dos bairros e participam da paisagem sonora de uma cidade convulsiva em suas diferenças. A artista Bárbara Wagner, em parceria com Benjamin de Burca, desconstrói esse fenômeno no filme Estás vendo coisas (2016) e o analisa tornando visíveis as singularidades, as errâncias e também algumas relações entre seus agentes. A boate Planeta Show abrigou o experimento de um retrato coletivo e filmado, que, nessa condição, desafia o caráter preciso da fotografia. O resultado não deixa de ser documental, mas é parcialmente ofuscado pela luz artificial de estúdio, camarim, palco e tela, com personagens que encenam a si mesmos.

Charlotte Johannesson

1943, MALMÖ, SUÉCIA. VIVE EM SKANÖR, SUÉCIA

Instruída em tecelagem, Charlotte Johannesson começou a fazer tapeçarias como arte nos anos 1970. Seus trabalhos satirizavam a política tradicional e muitas vezes consistiam em comentários feministas e engajados sobre acontecimentos globais. Como reação ao golpe militar do general Augusto Pinochet em 1973, por exemplo, ela produziu Chile Echoes in My Skull [O Chile ecoa no meu crânio] (1973/2016), no qual se põe na posição de testemunha atormentada e tece uma imagem de sangue derramando de veias abertas da América Latina. Em 1978, Johannesson trocou seu tear por um Apple II Plus, a primeira geração de computadores pessoais. Aprendendo a programar sozinha, ela adotou as mesmas medidas que usava no tear para o computador (239 pixels na horizontal e 191 pixels na vertical). Financiada pelo Departamento Nacional Sueco de Tecnologia e Desenvolvimento, ela fundou o Digital Theatre [teatro digital] com seu parceiro Sture Johannesson, em Malmö, na Suécia. Enquanto existiu, entre 1981 e 1985, o Digital Theatre foi uma tecno-utopia em miniatura e o primeiro laboratório de arte digital da Escandinávia. Charlotte Johannesson se dispôs a criar “micro-performances”: gráficos digitais em tela e impressos, e experimentos com computadores em tempo real.

Felipe Mujica

1974, SANTIAGO, CHILE. VIVE EM NOVA YORK, EUA

Os projetos de Felipe Mujica se organizam a partir de duas formas principais de atuação: de um lado, sua pesquisa visual, que envolve a criação de instalações de painéis de tecido móveis e interativos; de outro, a organização colaborativa de exposições, publicações e gestão de espaços culturais. Permeia essa atuação a investigação sobre o passado recente da arte latino-americana, com interesse específico por experiências que aproximam educação e arte moderna. Aspecto fundamental de seu método de trabalho é a abertura da obra ao diálogo com outros artistas, com o público e com comunidades. No projeto Las universidades desconocidas [As universidades desconhecidas] (2016), Mujica trabalha em parceria tanto com os artistas brasileiros Alex Cassimiro e Valentina Soares, como com o grupo Bordadeiras do Jardim Conceição, formado por cerca de quarenta moradoras desse bairro na cidade de Osasco. A partir de desenhos realizados pelo artista, os grupos de colaboradores criaram e confeccionaram as cortinas que compõem a instalação. Produzidas com os mesmos materiais e técnicas distintas, as peças costuram saberes pessoais formados por diferentes repertórios e experiências, unidos agora como lados complementares de uma mesma realidade: o trabalho criativo coletivo.

Gilvan Samico

1928, RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL – 2013, RECIFE

Gilvan Samico apresenta em suas gravuras mitos e cosmologias repletos de simbologias. Suas composições têm a simetria e a verticalidade como valores que organizam narrativas sobre a natureza – sendo homens e mulheres parte desse ambiente – e instâncias sagradas que se relacionam com a vida terrena. Iniciou sua prática artística como autodidata no Recife, mas depois estudou sob tutela de Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi. A impressão de suas gravuras era feita de forma minuciosa e manual. A produção de cada peça presente na 32ª Bienal levou um ano de trabalho do artista, entre 1975 e 2013. Influenciado pela arte popular nordestina, Samico tem como referência a literatura de cordel e o Movimento Armorial, sendo o encontro com o escritor Ariano Suassuna um importante ponto de inflexão em sua trajetória. Partindo de narrativas locais, Samico traça uma história visual que engloba cosmologias sobre a formação do mundo e o estudo de livros como a trilogia Memoria del Fuego, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, publicada entre 1982 e 1986. Assim, os títulos das obras funcionam como chaves de leitura que, junto às imagens, revelam camadas que pertencem e povoam o imaginário de tantas culturas.

Grada Kilomba

1968, LISBOA, PORTUGAL. VIVE EM BERLIM, ALEMANHA

Grada Kilomba é uma escritora, teórica e artista que ativa e produz saber descolonial ao tecer relações entre gênero, raça e classe. Sua obra dispõe de formatos e registros distintos, como publicações, leituras encenadas, performances-palestras, videoinstalações e textos teóricos, criando um espaço híbrido entre conhecimento acadêmico e prática artística. É partindo do gesto duplo de descolonização do pensamento e de performatização do conhecimento que Kilomba salta do texto à performance e dá corpo, voz e imagem a seus escritos. Na 32ª Bienal, a artista mostra The Desire Project [O projeto desejo] (2015-2016), uma videoinstalação dividida em três momentos: While I Speak, While I Write e While I Walk [Enquanto falo, Enquanto escrevo e Enquanto ando], vídeos cujo principal elemento visual é a palavra e que indicam a aparição de um sujeito enunciador historicamente silenciado por narrativas coloniais.

Güneş Terkol

1981, ANKARA, TURQUIA. VIVE EM ISTAMBUL, TURQUIA

Güneş Terkol desafia os imaginários relacionados ao feminino a partir de histórias pessoais ou coletivas compartilhadas por mulheres em oficinas que organiza para sua pesquisa e processo de trabalho. O bordado, prática culturalmente atribuída ao ambiente doméstico e ao labor da mulher, ganha camadas públicas e políticas em sua produção. Na 32ª Bienal, são apresentadas as séries Couldn’t Believe What She Heard [Não posso acreditar no que ela ouviu] (2015) e The Girl Was Not There [A menina não estava lá] (2016), essa última comissionada para a exposição. Na primeira, em uma montagem aberta, Terkol cria imagens nas quais elementos relacionados ao estereótipo do “universo feminino” – unhas esmaltadas, cabelos, sapatos – são contrastados com fragmentos de corpos cujo sexo não é possível identificar. Na segunda série, a artista resgata o caráter místico e idílico da natureza. A coloração se origina de materiais orgânicos, como cebola, folhas de tabaco, abacate e beterraba, e compõe paisagens ou cenas que mesclam elementos ornamentais, molduras vazias e figuras inventadas. O tecido utilizado subverte a aparente fragilidade das obras e sua transparência possibilita entrever as composições, multiplicando e desconstruindo os imaginários do feminino e da natureza.

Jonathas de Andrade

1982, MACEIÓ, ALAGOAS, BRASIL. VIVE EM RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL

Jonathas de Andrade trabalha com suportes variados, como instalação, fotografia e filme, em processos de pesquisa que têm profundo caráter colaborativo. Sua obra discute a falência de utopias, ideais e projetos de mundo, sobretudo no contexto latino-americano, especulando sobre sua modernidade tardia. Em seu trabalho, afetos que oscilam entre a nostalgia, o erotismo e a crítica histórica e política são agenciados para abordar temas como o universo do trabalho e do trabalhador, e a identidade do sujeito contemporâneo, quase sempre representado pelo corpo masculino. O filme O peixe (2016), apresentado pela primeira vez na 32ª Bienal, acompanha pescadores pelas marés e pelos manguezais de Alagoas, que utilizam técnicas tradicionais de pesca, como rede e arpão, na espera pelo tempo necessário para capturar a presa. Cada pescador encena uma espécie de ritual: eles retêm os peixes entre seus braços até o momento da morte, uma espécie de abraço entre predador e presa, entre vida e morte, entre o trabalhador e o fruto do trabalho, no qual o olhar – do pescador, do peixe, da câmera e do espectador – desempenha papel crucial. Situada num território híbrido entre documentário e ficção, a obra dialoga com a tradição etnográfica do audiovisual.

Michal Helfman

1973, TEL AVIV, ISRAEL. VIVE EM TEL AVIV

Michal Helfman trabalha com escultura, desenho, instalação, performance, dança e filme. Para a 32a Bienal, a artista apresenta a videoinstalação Running Out of History [Esgotando a história] (2015-2016), filme ficcional com roteiro baseado em entrevistas reais da artista com a ativista israelense Gal Lusky, que criou uma organização não governamental atuante em lugares nos quais a entrada de ajuda humanitária internacional é dificultada por seus regimes políticos. O filme traz uma narrativa sobre justiça, construção histórica, arte, política e práticas ativistas. As discussões giram em torno de temas como contrabando, semelhanças e diferenças entre ativistas e artistas, figuras que podem inspirar e influenciar a realidade. As conversas são moderadas por dois dados impressos em 3D, cada face contém uma palavra da frase “Não perdoaremos, não esqueceremos” – cunhada em Israel acerca do Holocausto, mas que também serviu para legitimar atos de violência praticados por autoridades estatais. Na impressora 3D, uma dançarina se movimenta de acordo com as direções da máquina. O filme é parte de uma instalação que inclui barreiras e dispositivos, como caixas de transporte e esculturas. Dentro dela está uma escultura de chapa de metal com a imagem de uma balança, sugerindo um signo de ponderação, pesos e medidas ante a condição histórica e política tratada por Helfman.

Misheck Masamvu

1980, MUTARE, ZIMBÁBUE. VIVE EM HARARE, ZIMBÁBUE

Misheck Masamvu é conhecido por suas pinturas provocadoras, que são consideradas reflexões e comentários sobre a paisagem sociopolítica pós- independência do Zimbábue e o lugar desse país no imaginário mundial. Embora tenha nascido no início do processo de independência do Império Britânico, as cenas de Masamvu visualizam um mundo caótico similar ao retratado no romance "The House of Hunger" (1978), do falecido escritor zimbabuense Dambudzo Marechera – o artista descreveu sua literatura como um “tratamento de choque literário”. O mesmo pode ser dito das pinturas de Masamvu: são declarações de um estado político estagnado e fraturado. Ainda que sedutoras em seu tratamento de cores e formas, podem ser lidas como uma forma de combate. A guerra aqui é tanto política como espiritual, feita para redimir a apatia humana diante do sofrimento e da dor, condições que levam à exaustão espiritual. Comissionadas pela 32ª Bienal, Midnight [Meia-noite] (2016) e Spiritual Host [Anfitrião espiritual] (2016) foram criadas em um contexto de transformação política no Zimbábue, onde protestos recentes contra o governo mostram um povo exigindo uma nova realidade.

Mmakgabo Helen Sebidi

1943, MARAPYANE, ÁFRICA DO SUL. VIVE EM JOANESBURGO, ÁFRICA DO SUL

Nascida na vila de Marapyane, Mmakgabo Helen Sebidi aprendeu com a avó técnicas tradicionais de pintura em parede e cerâmica. Mudou-se para Joanesburgo adolescente e, entre as décadas de 1970 e 80, participou de cursos e ateliês em espaços que proporcionaram o contato com outros artistas e um ambiente politizado, o que impactaria a temática de seus trabalhos. Sebidi retrata experiências cotidianas e sabedorias ancestrais, assim como mostra o sofrimento infringido pelo contexto do apartheid, especialmente para mulheres negras. De seus professores e colegas artistas ela absorveu técnicas de colagem e elementos abstratos, gerando o emblemático díptico Tears of Africa [Lágrimas da África] (1987-1988), presente na 32ª Bienal. A obra, produzida em carvão, tinta e colagem, trata de conflitos continentais assim como da aspereza das relações humanas no cotidiano da cidade grande e suas decepções, agravadas pela degradação das estruturas familiares e pelo regime de segregação que vigorou oficialmente na África do Sul de 1948 a 1994. Novas obras, criadas durante sua residência artística em Salvador, na Bahia, e presentes na exposição, geram uma conversa entre o Brasil e o continente em que Sebidi nasceu e ativam um diálogo entre os dois trabalhos.

Pierre Huyghe

1962, ANTONY, FRANÇA. VIVE EM SANTIAGO, CHILE E NOVA YORK, EUA

Os trabalhos de Pierre Huyghe desafiam as fronteiras entre ficção e realidade. Sua obra se materializa em meios como filme, situações ou exposições, operando, por vezes, como ecossistemas. Huyghe inclui em sua prática elementos que expandem a noção de objeto de arte. Em Cerro Indio Muerto [Colina Índio Morto] (2016), vê-se em primeiro plano um esqueleto humano caído próximo ao sulco deixado no solo por um riacho seco, tendo ao fundo uma colina. Seu título faz referência ao local onde a fotografia foi feita pelo artista, na região do deserto do Atacama, no Chile. Os restos mortais, ali encontrados por Huyghe, fundem-se à paisagem árida do deserto, em um cruzamento entre tempo humano e tempo natural. Assim como o nome da colina remete ao extermínio, histórico e atual, dos povos indígenas nas Américas.

Rachel Rose

1986, NOVA YORK, EUA. VIVE EM NOVA YORK

Em seus vídeos e instalações, Rachel Rose constrói narrativas por meio de processos de edição, utilizando a livre e abundante circulação e associação de vídeos e imagens. A sobreposição de camadas, procedimento comum à pintura, é aplicada aqui a arquivos digitais, criando uma imagem híbrida com forte potencial sinestésico. A Minute Ago [Um minuto atrás] (2014) é uma reflexão sobre a experiência da catástrofe, que mescla um vídeo encontrado no YouTube de uma súbita tempestade de granizo em uma praia com relatos do arquiteto americano Philip Johnson em sua Casa de Vidro, que, por sua vez, são confrontados com a reprodução da pintura "O funeral de Phocion" (1648), do francês Nicolas Poussin, entre outros elementos.

Vídeo nas Aldeias

CRIADO EM 1986. BASEADO EM OLINDA, PERNAMBUCO, BRASIL

Há três décadas, o Vídeo nas Aldeias tem mobilizado debates centrais aos povos indígenas e à produção e difusão audiovisual. O projeto tem como um de seus objetivos a formação de realizadores indígenas, desestabilizando narrativas forjadas com base no olhar externo. Questões éticas e escolhas estéticas são entrelaçadas em seus projetos, que tratam de assuntos como rituais, mitos, manifestações culturais e políticas, e experiências de contato e de conflito com os brancos. Fundado pelo indigenista Vincent Carelli, Vídeo nas Aldeias capta recursos e circula seus trabalhos, realiza exibições em comunidades indígenas, festivais de cinema, televisão, internet e elabora materiais didáticos. Para a 32ª Bienal, Ana Carvalho, Tita e Vincent Carelli criaram a instalação inédita O Brasil dos índios: um arquivo aberto (2016), que configura um espaço de imersão em imagens, gestos, cantos e línguas de vinte povos distintos, entre eles os Xavante, Guarani Kaiowá, Fulni-ô, Gavião, Krahô, Maxakali, Yanomami e Kayapó. Reunidos por sua força discursiva e imagética, os trechos constituem mais um ponto de resistência coletiva às tentativas de invisibilidade e apagamento de grupos indígenas e provocam uma ampla reflexão sobre alteridade e convenções de perspectivas culturais.

Wilma Martins

1934, BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS, BRASIL. VIVE NO RIO DE JANEIRO, BRASIL

Wilma Martins relaciona-se com seu entorno por meio de desenhos, gravuras e pinturas. Na série Cotidiano (1975-1984), seu processo de trabalho consiste em vários estágios, nos quais desenhos e pinturas vêm de e voltam para seus cadernos, como revisitações – ora os desenhos são esboços de pinturas posteriores, ora são registros de uma composição que já nasceu na tela. Os espaços domésticos, aparentemente ordinários, são habitados por animais silvestres e cobertos por matas e rios que “esparramam-se” ou surgem por frestas do dia a dia, como uma pia repleta de louça e as dobras de um cobertor. Jogando com escalas e cores, a artista torna visível a coexistência de universos supostamente incompatíveis. Em sua obra, o que poderia estar à espreita no inconsciente emerge para atravessar inesperadamente a rotina e ocupá-la com uma atmosfera insólita. Morando no Rio de Janeiro desde a década de 1960, Martins contempla vistas a partir de sua casa, hábito que cultiva para criar as telas das paisagens. 

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